Autor(es): Ricardo Leopoldo |
O Estado de S. Paulo - 11/12/2012 |
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Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica Para a retomada de investimentos, taxa de retorno precisa ser discutida com o setor privado, diz economista
A frase não é de um líder da oposição, mas de um dos economistas mais respeitados pela presidente Dilma Rousseff, o ex-secretário de Política Econômica Luiz Gonzaga Belluzzo. Em entrevista exclusiva, ele comenta que a administração federal precisa dialogar com as companhias privadas, sobretudo para estabelecer uma atraente taxa interna de retorno dos projetos públicos de longa maturação, como os de logística. A seguir, os principais trechos da entrevista. Por que este ano o Brasil está crescendo pouco e a inflação atingiu 5,53% em novembro, no acumulado em 12 meses? A média de crescimento dos últimos três anos dá mais ou menos 3,5%. Nestes 3,5% tem o ano de 2010, que cresceu 7,5% devido à recuperação da crise de 2009. Isso tem a ver com as medidas do governo para incentivar a economia na crise daquele ano, dirigidas ao crédito e ao consumo. Naquele período, uma quantidade grande de pessoas passou a ter acesso ao crédito. Mas todo ciclo de consumo tem limitações. A partir de 2011 isso começou a arrefecer e houve demora na percepção de que os efeitos positivos estavam mais fracos. O governo demorou para montar esse pacote de investimentos, que ainda não deslanchou. O investimento fraco é o principal fator que deve fazer o PIB subir perto de 1% em 2012, depois de avançar 2,7% em 2011? Sim. A taxa de investimento não sobe porque o investimento público está deprimido há muitos anos. E, diante da perspectiva de desaceleração da economia, o investimento privado se contraiu. Além disso, o investimento industrial foi muito afetado pelo câmbio e pelos juros. Mas, como os juros baixaram e a moeda foi um pouco desvalorizada, a transição demora. Ocorreu também uma desaceleração dos investimentos da Petrobrás por causa das dificuldades de caixa e de financiamento. Está demorando a implementação dos projetos definidos como prioritários, como os de logística, entre eles os de aeroportos e portos. Há um problema sério de comunicação, de coordenação da economia. Em que sentido? No sentido de que o governo precisa apontar para o setor privado que está disposto a coordenar a retomada do investimento. O setor privado está muito retraído. Até que ponto essa retração está relacionada a fatores externos ou internos? Em relação a fatores externos, é muito pouco. Há um problema de coordenação, diálogo e negociação. Os projetos são atraentes. Mas tem um problema que o setor privado sempre levanta que é a taxa de retorno. É preciso haver conversa, pois assim é que funciona o capitalismo moderno. Não há como negar. Não pode ficar numa discussão estéril. A revista The Economist diz que há muito intervencionismo. Isso não quer dizer nada, é uma frase ideológica de quinta categoria. Mas é preciso haver comunicação adequada entre o governo e o setor privado. Que tipo de diálogo o governo e a presidente Dilma Rousseff deveriam ter com o setor privado? É uma questão de coordenação e de confiança. O governo deu incentivos e tomou medidas muito relevantes de defesa do setor industrial. Eu acho que precisa estender essa negociação com os outros setores, pois o elemento crucial para que o País tenha um crescimento maior está na infraestrutura. Da parte do governo federal, o que poderia ser feito? Tem de discutir com o setor privado a questão da taxa interna de retorno (TIR) dos projetos, ver se é atraente ou não. Não há uma regra. Certos critérios de Como podem ser destravados os investimentos? Tem de conversar com o setor privado. É claro que não pode aceitar tudo, mas também não pode negar tudo. Tem de chegar a um ponto no qual as coisas convergem. O sr. acredita que a presidente Dilma vai adotar medidas nessa direção no curtíssimo prazo? Eu não gosto de parecer que dou conselhos a presidentes, o que é inoportuno. Mas ela é uma pessoa pragmática e saberá como fazer isso. O baixo crescimento é um problema do governo e não de um ministério específico, como o da Fazenda? É um problema de governo. Essa questão (troca de autoridades da equipe econômica) veio de outros interesses, de quem faz arbitragem com juros e câmbio. Eu sei o nome dos fundos, corretoras e bancos de investimentos que estão nesse negócio. Acabou o último peru de Natal disponível para a ceia, como diz o Delfim Netto. Precisamos distinguir as coisas. Nessa discussão do preço da energia o governo agiu corretamente. O preço no Brasil era um absurdo em termos internacionais. É possível que o PIB cresça 4% em 2013, como estima o ministro Mantega? Dá para crescer certamente mais do que em 2012. Podemos atingir 3,5%, 4% em 2013. |